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CRÔNICA: Quanto vale um poema?

Mafalda (Quino) minha eternamente leitura preferida (reprodução).
Desde muito criança, sempre tive o incentivo para leitura. Minha mãe me acompanhava, de jornais em que ela comprava casualmente - pois não tínhamos dinheiro sempre para tal 'luxo'-, livros escolares e de revistas em quadrinhos que ganhei muitas vezes de primos. Eu tinha certeza que um dia seria: jornalista ou jornaleiro. Semana passada, eu e a minha mãe (famosa entre meus amigos) resolvemos fazer uma faxina em casa, devido ao número gigantesco (um horror) de jornais que estava parados em nosso quintal.
Sou assinante do jornal O Estado de S. Paulo, às sextas, sábados e domingos. Lá pelas seis da madrugada - como costumamos dizer, pois odiamos acordar cedo - ouvimos o motoqueiro a jogar as notícias do país e do mundo. Sou assinante também da revista Piauí e da Alfa - o luxo e o lixo do jornalismo - e leitor assíduo da Rolling Stone, a Época, Veja, Carta Capital e outras mais leio no trabalho. Além do jornal Folha de S. Paulo, pela internet através do e-mail UOL, que assinei quase que exclusivamente para isso.
Mas vamos ao que interessa: "Quanto vale um poema?", é com esta frase provocativa que dei o título a este texto, que fiquei matutando - antigo este termo - após ser abordado por uma mulher na saída da estação Júlio Preste hoje pela manhã. Confesso, que quando bati os olhos no lado de fora da estação logo vi uma movimentação acima do normal, ali, para quem não sabe, fica o Centro Velho, a famosa Cracolândia, a maior concrentação de zumbis por metrô quadrado.
Não quero, por favor, ofender e ser metralhado por usar o termo zumbi, no parágrafo acima. Mas, infelizmente, é essa a sensação que se têm destes cidadãos que estão a mercê de um calamidade pública, tidos como vagabundos, trombadinhas e outros mais adjetivos possíveis.
Mas voltemos ao valor do poema: Coloquei meus pés para fora da estação e fui abordado, por uma mulher - confesso que quase não olhei para ela, horrível isso eu sei - que disse o seguinte: "Oi senhor, sei que o senhor tem hora para entrar no seu trabalho (realmente!), mas será que posso rescitar doisa poemas para o senhor?" e logo em seguida, começou a rescita-los.
Confesso que no calor da emoção e do medo, quase não prestei atenção nas palavras dessa moça, com um papel na mão e com vestimentas de que era realmente uma das 'moradoras' daquela região, eu me peguei na fazendo a pior coisa: apertar o passo para me livrar logo daquele momento. Ao terminar a segunda poesia "A poesia não tem preço, a poesia faz parte de um coração", ela emendou: "Será que o senhor tem qualquer cinco centavos para me dar", olhei para ela e disse que não. Ela insistiu se aproximando cada vez mais de mim e reafirmei: "Não tenho moça, desculpa"!
Daquele instante até a minha entrada no trabalho, onde realmente me senti seguro, foram menos de cinco minutos, ainda na calçada apenas acenei para uma colega, que esperava o sinal fechar do outro lado da rua, e entrei pelo portão já aberto pelo segurança. Minutos, depois essa mesma colega me pergunta: "Por que tanta pressa? Estava atrasado?". Pois é, nem eu sei. Eu me fiz de vítima ali, sendo que na verdade a maior vítima era o meu possível algoz.

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