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"A Força do Querer" foi a novela social e a melhor da década

Reprodução/TV Globo
Que me perdoem os fãs de "Avenida Brasil", mas "A Força do Querer" foi a melhor novela da década. Entre 2010 e 2017, nunca na TV Brasileira vimos uma história tão importante para a sociedade. O tráfico de drogas, o deslumbre da criminalidade, o vício em jogos, o perigos de jogos virtuais e a transexualidade, foram os temas que permearam a trama de Gloria Perez, com média prévia de 38 pontos, do primeiro ao último capítulo, é uma tomada de ânimo para o gênero telenovela.

Carminha e Nina, interpretadas pelas incríveis Adriana Esteves e Débora Falabella, entre outros personagens que fica impossível citar o elenco todo, fez o país parar com a trama de vingança, as falas ágeis, cenas bem dirigidas, a entrega dos atores e atrizes para fazerem o país vibrar com as emoções. Mas "A Força do Querer" debateu justamente questões éticas que o Brasil precisa retomar.

Os bandidos que são presos e logo conseguem na justiça uma liberdade condicional, é muito mais que uma boa trama da narrativa, se fosse há dez anos esta novela o público iria dizer que Gloria Perez estava viajando, mas não. As manchetes diárias nos jornais nos dão este tapa na cara, quando não é bandido conseguindo fugir em fugas mirabolantes, são assassinos confessos, saindo em benefícios que precisam ser revistos. Gloria, foi acusada de apologia ao crime, ao colocar Bibi, magistralmente interpretada por Juliana Paes, se corrompendo ao crime. Gostando do poder que o tráfico de drogas oferece à uma bolha social que é a comunidade em que vive. 

Bibi variou entre mocinha e bandida em diversos momentos, proclamava honestidade, usou do dinheiro sujo para salvar a vida de uma conhecida, fez favores ao tráfico, negociou arma, munição e a morte de um bandido, gozou da boa vida de baronesa do pó, sendo aclamada pela comunidade em um baile funk. Viajou entre o céu e o inferno em questões de minutos e não perdeu "a essência", mas se corrompeu. Neste núcleo de mocinhos e bandidos, a autora discutiu leis brasileiras, criminalidade e denunciou o que muitas mulheres, da vida real fazem, se iludirem com o amor bandido.

Por diversos momento se foi questionado por que a Bibi da vida real nunca foi presa, a polícia sabe onde está o crime. As mulheres são, na sua maioria, corrompidas pelo machismo que impera a sociedade, os maridos as obrigam a fazer as mais diversas loucuras. No tráfico, estas loucuras vão além. Nesta mistura de ficção e realidade, Gloria Perez dosou a personagem com a honestidade de uma vida normal, Fabiana Escobar, apesar de ter ajudado e feito favores ao marido, nunca incendiou um restaurante e não trocou tiros com a polícia, por exemplo. Mas transportou maconha mofada e armas, negociou munição, pediu ajuda aos traficantes e se está solta, foi a justiça que o quis.

A vida de Ivana, outra interpretação incrível de Carol Duarte, foi contava nos mínimos detalhes. Muitos acharam que estava arrastada, mas a autora teve o cuidado de fazer com que a personagem, transbordasse seus sentimentos ao público. Quem nunca se sentiu insatisfeito com o corpo, seja a adolescente em fase de transformação, seja a adulta que se sente gorda demais ou magra demais, os questionamentos que o seres humanos fazem sobre o "quem sou eu?", foram ressaltados por Ivana, que nasceu no corpo errado e se sentiu um erro de pessoa. No Brasil, o público Trans, não recebe a devida atenção: não há uma estimativa concreta sobre o público trans brasileiro, estudos de uma revisa estrangeira, "The Lancet" aponta que entre 0,4% e 1,3% da população mundial é trans, utilizando destes índices, estima-se que no Brasil um número entre 752 mil e 2,45 milhões de trans.

Ao colocar uma personagem trans na telenovela das nove, o principal produto da televisão brasileira, Gloria Perez foi além dos esteriótipos do shows de travestis, da prostituição e de trabalhos como cabeleireira, por exemplo. Dois personagens chamaram a atenção do público para discutir a identidade de gênero, a autora explicou para a sociedade a diferença entre transgênero, travestis e transformistas. Embora, estes dois últimos não tenham ganhado a devida atenção, a autora usou dos personagens Ivana e Nonato (Silvero Pereira) para explicar para a sociedade de como o transgênero se sente.

Ivana, se descobriu trans quando conheceu um transgênero da vida real, Tarso Brant, um dos inspiradores de Gloria Perez, entrou em cena, para abrir as portas da transição de gênero para Ivana. Ivana, ficou confusa, como a maioria dos telespectadores, quando questionou como isso era possível, sela nunca sentira atração por mulheres, de forma inédita na TV, foi-se explicado que gênero e sexualidade, não coisas diferentes. De uma forma, mais simples de ser entidade, a sexualidade é o desejo sexual por outra pessoa, embora esta explicação tenha sido de forma clara e simples, parte da sociedade pode não ter entendido, mas o assunto foi posto a mesa, para que a sociedade pesquisa e se informe.

Criticada pela militância trans, por não retratar de forma fiel as travestis e transformistas, a história serviu para levantar questões importantes para a sociedade. É preciso olhar para esta população e entender que são seres humanos que ser trans, não é uma opção e sim, a busca pela identificação com o eu.

Os dois exemplos de tramas, acima citados, mostra como a sociedade pode se transformar. A telenovela tem um papel importante perante a sociedade brasileira, influencia em vendas de produtos, gestos, palavras e comportamento. A autora é uma mestre em colocar assuntos vanguardistas em cena, foi assim como transplante de coração, inseminação artificial, transexualidade, crianças desaparecidas, cultura muçulmana, dependência química, tráfico de humanos e psicopatia, em cena. "A Força do Querer" abordou o embate entre a ética e criminalidade, entre intolerância e o respeito, e de quebra nos deu o prazer de acompanhar uma novela, do começo ao fim.

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