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OPINIÃO: "A Força do Querer" é a telenovela para salvar vidas

Reprodução/TV Globo
Quem está assistindo a novela "A Força do Querer" está vivenciando a realidade dos transexuais e travestis brasileiros, como eles são marginalizados e sofrem com o preconceito da sociedade a ponto de serem agredidos gratuitamente pelo simples fato de existirem. Na última quinta (6), Nonato (Silvero Pereira) estava saindo da balada com a amiga, Biga (Mariana Xavier), quando foi insultado por dois homens que o agrediram física e verbalmente.



No ar desde abril, a trama de Gloria Perez retrata a vida de transformistas que buscam a aceitação na sociedade. Nonato (Silvero Pereira) se traveste de homem para manter seu emprego formal - registrado em carteira -, e para isto se deparada com os maiores absurdos da boca do patrão, Eurico (Humberto Martins), que não sabe do seu talento como transformista. Enquanto isso, Ivana (Carol Duarte) tenta entender a sua insatisfação com o corpo.

A autora está abordando a identidade de gênero na novela de forma magistral, nunca nestes 66 anos de telenovela brasileira, o público trans foi retratado de forma tão sensata e respeitosa. Gloria tem um estilo vanguardista de fazer novela, embora muitas vezes critica pela imprensa especializada, por ser didática demais, ela aborda questões de interesse público, que vão além da venda de produtos comerciais, potes de margarinas e perfumes da moda.

A telenovela brasileira nasceu e cresceu junto com a televisão brasileira, ainda na década de 1950 ganhou força com tramas geralmente adaptadas de sucessos cubanos, argentinos e mexicanos, apenas na segunda metade da década seguinte passou a ganhar personagens com feições e características mais próximas dos brasileiros, "Beto Rockfeller", de Cassiano Gabus Mendes marca esta importante transição no país. Nos palcos, a censura pegava pesado com os dramaturgos, atores, diretores e especialmente com os travestis e transexuais, proibindo-os de se apresentar.

O AI-5 atrasou o militância LGBT no país: "Os anos de 1967 e 1968 foram muito importantes mundialmente porque foi um momento de questionamento de papéis de gênero, sexualidade, identidade. Surgem novas propostas identitárias, movimentos sociais de gays tanto na Europa, quanto nos EUA e América Latina. A ditadura prejudicou muito, afetou muito e atrasou cinco, seis, sete anos, as possibilidades de surgimento de movimentos", disse James Green, militante LGBT, à revista Carta Capital em 2014.

Na década de 1970, quando a ditadura estava no auge censurando as mais diversas formas de cultura, como a novela Roque Santeiro (1975), de Dias Gomes. A travesti Claudia Celeste, por exemplo, foi proibida de participar da novela "Espelho Mágico" (1978), de Lauro César Muniz, por ser travesti. A Globo, a tirou do ar, em um momento em que a sua personagem, embora fosse de apoio, estava crescendo, ela partiu para a Europa para fazer shows.

Em 1986, mesmo após o término da ditadura, Jane Di Castro, foi proibida de fazer seu show "Travesti ou Transfomista - Você Decide", nas boates do Rio. Na metade de 1989, com a nova constituição, Rogéria entrou para uma participação na novela "Tieta", de Aguinaldo SIlva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moreztshon. Ninete, era a procuradora de Tieta (Betty Faria) em São Paulo, a abordagem da personagem foi calcada na comédia como toda novela, a abordagem trans variou entre a transfobia e o respeito, porém era uma época diferente em que piadas racistas, homofóbicas e transfóbicas eram aceitáveis.

Gloria Perez aborda a personagem de forma humana, desde Sarita Viti (Floriano Peixoto), a autora tem levado a questão da transexualidade para a faixa nobre da televisão brasileira. Sarita foi a primeira trans, em "Explode Coração" (1995) a fazer uma novela do começo ao fim. O transgênero, estava nos planos de Gloria Perez desde a década de 1980, quando entregou a sinopse de "De Corpo e Alma" para a Globo, mas o assunto foi vetado pela emissora.


Ivana (Carolina Duarte) é uma jovem descontente com o corpo feminino, gênero que lhe foi atribuído ao nascer e que consta em sua certidão e nascimento, com o tempo e em busca de explicação para suas inquietações e infelicidade com o corpo, acabará se descobrindo um homem trans. Enquanto Nonato (Silvero Pereira), nasceu homem e se sente uma mulher, usa da figura feminina em busca de sua felicidade. A autora aborda, as diferentes formas da identidade de gênero na novela: Ivana embora se identifique com o corpo masculino, sua sexualidade não é alterada, ela se sente atraída por homens. A transexualidade, é de fato exatamente o contrário, está ligada à sexualidade/orientação sexual.

Levando este assunto para a novela, uma das principais manifestações culturais do brasileiro, a autora discute o respeito do cidadão pelo o próximo e desta forma educar a sociedade a respeitar as diferenças, afinal, o Brasil é o país que mais mata transexuais, travestis e transgêneros no Mundo, e ela usa o produto "telenovela", para educar e salvar vidas.

Excelente.

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