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Aceitação da família é fundamental, mas Ivana será rejeitada pela família em "A Força do Querer"


Ivana vai cortar os cabelos em cena que vai ao ar hoje em "A Força do Querer"
Um misto de transfobia, dor, sofrimento e falta de conhecimento. É assim que a família Garcia vai enfrentar a transexualidade de Ivana (Carol Duarte) em "A Força do Querer", as cenas começam a ser exibidas na noite desta terça (29) a partir das 21h10 pela TV Globo. O capítulo de segunda-feira (28) acabou justamente na cena que Ivana conta para a família, reunida na sala, que 'não é uma menina e que é trans', a cena faz parte do imaginário da família brasileira que reunida na sala assiste a novela de Gloria Perez.

Enquanto Joyce (Maria Fernanda Cândido) vai surtar ao ouvir a filha se revelar homem, exatamente o contrário de tudo o que idealizou, o irmão Ruy (Fiuk) vai achar que a irmã é lésbica e Eugênio (Dan Stulbach) vai procurar entender a filha e controlar toda a situação, Ivana, ao fazer esta revelação vai questioná-los se terá o apoio da família.

E é este apoio que os transgêneros precisam quando decidem assumir a identidade de gênero. "Contei primeiro para minha mãe por que tenho uma conexão muito forte com ela e para mim pouco me importava o julgamento do mundo oque eu queria era falar para ela e depois de muita coisa que ela me viu passar nessa vida ela sempre dizia com você aprendi que o importante é a pessoa ser feliz", conta Gabriel Vitchenzo, de 25 anos, que faz o tratamento de terapia hormonal há três meses, mas tem acompanhado mento, clínico e psicológico há 11 anos.

"Eles vem me acompanhando nessa travessia, e nas últimas consultas ambos se emocionaram por que me viram há 11 anos entrar no consultório a beira do fim", conta o rapaz que escreveu um depoimento especial para GERALDOPOST publicado domingo e estreia sua coluna semanal no próximo domingo, dia 3.

A mesma reação não teve a família de Thiago Boldrin quando contou para a família que 'gostava de meninas', o rapaz diz que ainda não contou para a família sobre a sua identidade de gênero por temer a reação: "Minha família não sabe, eu venho família extremamente religiosa e quando eu contei que gostava de meninas foi muita confusão que reflete até hoje, então eu ainda não contei, por que ainda não achei a forma certa pra ser menos dramático, e ainda sou pré T (trans)", relata.

Boldrin diz que teme em abrir o jogo, por causa do preconceito: "Causa um certo medo até de contar de qualquer forma e ter mais rejeição ainda, por que no momento que eu contar vai mudar de homofobia pra Transfobia, o preconceito vai ser o mesmo só vai mudar de nome e vim mais agressivo", o rapaz escreveu um depoimento para GERALDOPOST que será publicado domingo.

"No processo de transição a importância da família é essencial. A construção social vem sendo imposta e no momento da transição o apoio é fundamental para facilitar tais processos e como retaguarda psíquica e física", relata Alberto Silva, gestor da casa de acolhida para transexuais e travestis "Casa Florescer" em São Paulo, a casa tem 30 trans atualmente. "Ao todo 96, sendo que 40% tiveram saídas qualificadas( moradia, autônoma, retorno a família), hoje 50% das trans vinculadas se encontram no mercado de trabalho formal", Silva.

Para o trans a acolhida e o apoio familiar é imprescindível: "A família apoiando a travesti, mulher transexual e o homem trans poderão seguir a sua transição com mais força e ânimo mesmo diante das opressões sociais vividas. Terão a possibilidade de seguir os estudos e também de terem um lar para apoiá-los nas situações de constrangimento e de violência vividos socialmente", conta Luiz Fernando Uchoa, jornalista e um dos membros do Centro de Cidadania Laura Vermont "uma instituição destinada a socialização, formação e sensibilização para LGBTs e também para a rede de serviços na melhora de atendimentos para este segmento", conta.

O Centro de Cidadania é responsável por espaços com o transcidadania na Zona Leste de São Paulo e realiza atividades de capacitação profissional, sociocultural e acompanha o desenvolvimento escolar nas escolas da região.

MERCHANDISING SOCIAL

"Contigo!1996"
A abordagem sobre o assunto em uma telenovela é essencial e tem como principal papel a quebra de tabus. Gloria Perez é uma mestra em abordagem sociais em suas novelas levou para o grande público grandes discussões como o preconceito contra as pessoas soropositivas em 1988, na novela "Carmem", na TV Manchete, sua única obra fora da Rede Globo, além de campanhas sociais em "Explode Coração" (1995) e "O Clone" (2001), entre outras.

Em "América" (2005), Gloria Perez, foi censurada quando o beijo gay dos personagens Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) foi tirado do ar momentos antes de sua exibição, o beijo só foi ao ar oito anos depois na novela "Amor à Vida" de Walcyr Carrasco, acusada de propaganda enganosa, dias depois a Globo assumiu o corte.

O merchandising social é costumeiro na televisão brasileira. No livro "Televisão Levada a Sério", Arlindo Machado retrata o assunto: "Esquematicamente, pode-se abordar a televisão (da mesma forma do que qualquer outro meio) de duas formas distintas. Pode-se tomá-la como um fenômeno de massa, de grande impacto na vida social moderna, e submetê-la a uma análise de tipo sociológico, para verificar a extensão de sua influência", embora se tenha nitidamente a telenovela como um produto de consumo em que se vende os mais variados produtos, Machado aborda a responsabilidade social por outro viés: "Mas também se pode abordar a televisão sob um outro viés, como um dispositivo audiovisual através do qual uma civilização pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios anseios e dúvidas, as suas crenças e descrenças, as suas inquietações, as suas descobertas e os vôos de sua imaginação. Aqui, a questão da qualidade da intervenção passa a ser fundamental"

A personagem foi construída de forma com que o público aprovasse seu drama, em entrevista para Folha a novelista diz que não tinha plano B. "Sendo um tema ainda tão desconhecido para a maioria das pessoas, a preocupação foi construir empatia. O público compartilhou sua angústia e a descoberta de sua identidade. Está indo junto com ela", disse Gloria Perez. O mesmo aconteceu com Sarita Vitti (Floriano Peixoto), de "Explode Coração" (1995), a autora construiu sua trama para que o público se sensibilizasse com sua história e a "humanização" do personagem foi proposital.

Na época, Sarita ajudava os vizinhos encrencados e tinha planos de adotar uma criança com HIV, em uma época que o país ainda sofria com a perdoa de seus ídolos devido à doença. "Quero colocar esses dois assuntos delicados em discussão por que, infelizmente, ainda existe muito preconceito em torno disso", disse a autora em entrevista à revista Contigo! na época.

A audiência da novela está na casa dos 34 pontos, média desde o primeiro capítulo, por diversas vezes ultrapassou os 40 pointos de audiência em São Paulo, onde cada ponto corresponde a 199.309 pessoas: são mais de 6,7 milhões de pessoas acompanham a novela diariamente,

NOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS

Renan Castelo Branco/GShow
Ivana vai ser rejeitada pela família em "A Força do Querer" e passará por dificuldades, o pai será o única que vai 'entender um pouco melhor' o drama da filha a ponto de dar dinheiro escondido para ela.

Mas Ivana passará por situações que os trans passam diariamente por insultos e humilhação. Ao entrar em uma banheiro ela será hostilizada. A vida de Ivana não será nada fácil, pois o preconceito é gritante e aterrorizantes, vide os assassinatos quase que diários que os trans são vítimas em todo o mundo.

TRANSFOBIA

reprodução
No Brasil não existe uma estatística oficial sobre o assunto, porém o site HOMOFOBIAMATA.wordpress.com, editado pelo Grupo gay da Bahia - GGB, produz um relatório anual com as mortes do público LGBT, esta contabilização é realizada através de dados da delegacias civis e militar da Bahia, notícias em sites e períodos jornalísticos.

Das 343 mortes de 2016, 42% foram trans (travestis e transexuais) e 12 heterossexuais, um dos casos mais famosos é do vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas, que ao tentar defender um gay e duas travestis de lutadores homossexuais foi brutalmente assassinado em uma estação do Metrô.

ESTUDO

A personagem Ivana é o tema central do trabalho de conclusão de curso de GERALDOPOST, editor deste blog. "A Identidade de Gênero na Novela 'A Força do Querer' - Salvando vidas no Horário Nobre" é um estudo sobre como a abordagem referente aos transgêneros/transexuais, travestis e transformistas está sendo analisada.

GERALDOPOST tem feito postagens especiais sobre o assunto e convidados pessoas para comentar a novela ou cenas da novela, como Paulo Alencar, psicólogo, que escreveu sobre a descoberta de Ivana perante à sua sexualidade, que não foi alterada. Na novela Ivana é apaixonada por um homem cisgênero - pessoa que se identidade com o gênero de nascimento - e não sabia como lidar com isso.

O artigo "Ser trans não é, necessariamente, ser homossexual", Alencar explica como a sexualidade e a identidade de gênero não são coisas opostas e que nem todo transexual/transgênero é homossexual.

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