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DEPOIMENTO: "Quantas vezes fugi do espelho do meu reflexo, olhar para ele era como me punir..."

TV Globo
Texto Gabriel Vitchenzo.

São poucas as novelas que me prendem assim. Quando soube que a novela das nove "A Força do Querer" iria falar sobre transgêneros eu fiquei feliz e ao mesmo tempo com receio, afinal, não sabia se iria ser abordado de uma forma 'didática' ou no 'mínimo humana' o assunto, que ainda é tão pouco falado na televisão que infelizmente para muitos é um tabú!

Então chegou o dia em que eu comecei acompanhar a novela capítulo por capítulo. E no desenrolar da trama eis que chega a cena da personagem Ivana, homem trans.

Ivana tira a blusa e olha seu reflexo no espelho e rapidamente abaixa a cabeça. Lágrimas escorrem em seu rosto. Nesse momento eu me emocionei tanto, mas tanto... Eu me vi naquela cena. Quantas vezes fugi do espelho do meu reflexo, olhar para ele era como me punir!

Então, eis que surge outra cena Ivana: socando o 'peito/seis' e outra vez me emocionei. E logo me veio algumas reflexões: como podemos julgar tanto as coisas que fogem dos padrões? Como o nosso mundo ainda tem coragem de matar pessoas apenas pela existência delas? As mataram por serem "DIFERENTES".

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A cada cena eu me apaixonava mais pela personagem Ivana e pela atriz Carol Duarte, a entrega dela ao personagem. Ela consegue transmitir a realidade dolorosa e corajosa que é nascer transgênero. A cena em que Ivana sai pela primeira vez na rua e sofre transfobia e homofobia por apenas estar com roupas ditas ¨masculinas¨,me fizeram voltar no tempo.

Me lembrei das várias vezes que na adolescência as palavras horríveis que eu escutava por ser ¨Diferente¨. Agressões verbais, emocionais e físicas. Na época em que eu estudava era pouco falado sobre o universo LGBTQ+, o máximo que era falado era sobre Lésbica e Gay. E mesmo assim, de forma homofóbica com extremo preconceito.

Fico muito feliz em saber que essa geração esta tendo essa informação está tendo voz, mesmo em passos lentos o assunto esta sendo falado! Eu fico surpreso e muito feliz em ver jovens tão novos já saberem sobre tanta diversidade e buscarem informações e a desconstrução! 

Vivemos em um mundo conservador, o nosso país é extremamente conservador, a prova disso são as estatísticas: o país que mais mata trans e travestis é Brasil. Digitar isso dói meu coração, isso é alarmante temos um problema aí e isso não está sendo transmitido ou falado, ou pelo menos tendo a atenção necessária e humana. Quantos mais vão morrer esse ano? Será que eu e meus amigos LGBTQ+ vamos conseguir chegar até os 30?

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Quando leio ou escuto alguém usar como argumento um discurso de ideologia sobre alguma religião/crença para falar que nascer LGBTQ+ é errado, me vem em mente mil pensamentos. Mas um desses pensamentos fica fixo: essa pessoa que usa esse discurso de ódio não percebe que os trans, travestis, os LGBT+ em geral que foram mortos antes de serem assassinados também ouviram esse discurso. E não tiveram nem a oportunidade de se defender foram mortos das mais diversas formais cruéis e brutais.

Ninguém é obrigado a ser desconstruído, mas o mínimo que uma pessoa deve ser é humana com o seu próximo. A vida é feita de escolhas seja bem-vindo se está preparado para viver um arco-íris de amor ou continue vivendo o seu mundo cinza de ódio!

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