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Transfobia: Cena de "Explode Coração", mostra que quase nada mudou entre 1995 e 2018


Foi ao ar nesta semana no Viva, a cena em que Sarita Vitti, interpretada por Floriano Peixoto, na novela "Explode Coração", de Gloria Perez, não consegue a vaga de emprego por ser travesti. Na cena, ela é entrevista pro Tadeu (Daniel Dantas), que sem ao menos olhar em sua cara analisa seu currículo e o acha muito interessante.


Tadeu, ao levantar os olhos e ver que se trata de uma travesti, logo arranja uma desculpa dizendo que ela é muito competente para o cargo. Sarita não deixa por menos e retruca, "Se tu fosse homem, diria que viu meu gogó".

A cena que foi exibida no 10º capítulo da novela, mostra o quão Gloria Perez, chama de "Rainha das Telenovelas Brasileiras", pela revista americana "Variety", está à frente do tempo, a autora aborda como o preconceito no mercado de trabalho, já em 1995, poderia ser pauta de uma trama das nove (antiga novela das oito).



Gloria escreveu a personagem inspiradas em diversas figuras, uma destas inspirações foi o livro "Erro de Pessoa", de João W. Nery, que foi reeditado e ganhou o título de "Viagem Solitária", mesmo livro que a inspirou na criação da personagem Ivana/Ivan, Carol Duarte, na novela "A Força do Querer".




"Muito triste a gente nascer no corpo errado Odaísa, Deus se distraído quando me prendeu num corpo de um homem. Eu sou uma mulher, minha alma é de mulher", diz Sarita em uma cena exibida no capítulo 3.

Em 2017, Gloria Perez voltou abordar o preconceito que transexuais, travestis e transgêneros sofrem no mercado de trabalho, por fugirem do padrão da heteronormatividade - termo em que a heterossexualidade é a única forma de viver da sociedade. Nonato (Silvero Pereira) é um ator transformista que foi expulso de casa pelo irmão debaixo de porrada, no Rio de Janeiro, escondia sua (verdadeira) identidade feminina (Elis Miranda) para conseguir um emprego, como motorista de Eurico (Humberto Martins).

A trama do personagem, que passou toda a novela escondendo do patrão e da maioria dos colegas de trabalho, sua identidade feminina rendeu cenas humoradas e dramáticas, em que o público vivenciava momentos de tensão, quando Elis Miranda foi agredida na rua várias vezes. Além deste personagem, Gloria também abordou o no assunto através de Ivan, que ao fazer a transição de gênero, enfrentava o preconceito na busca por trabalho.

Ivan, ao contar para a família que não se identificava com o corpo feminino e iniciar o tratamento hormonal, perdeu toda o apoio familiar e foi em busca de trabalho, não conseguindo emprego, ao constatarem que se tratava de um transexual. Posteriormente, ele conseguiu emprego como atendente de caixa de um teatro.

ADOÇÃO DE CRIANÇAS

A trama de Sarita Vitti vai além, Sarita sonha em ter um filho e tentar adotar uma criança. Na época, em entrevista à revista Contigo!, Gloria Perez disse que buscou criar a personagem de forma íntegra, para a aceitação do público: "Quero colocar esses dois assuntos delicados em discussão por que, infelizmente, ainda existe muito preconceito em torno disso. Nos estados Unidos, as estatísticas comprovam que um grande número de homossexuais opta pela adoção. Aqui, essas pessoas são consideradas pela maioria da sociedade sinônimo de depravação. Não é à toa que, desde o princípio, quis mostrar a Sarita de uma forma íntegra".

Nota-se, que na época, não existia uma distinção em torno da sexualidade e gênero. Posteriormente, já na década seguinte, estudos começaram, a ser publicados a cerca do assunto, e gênero e sexualidade, ao menos no âmbito social e não mais apenas entre cientistas e acadêmicos, passaram a ser tratados não mais como sinônimos. Em "Explode Coração", não se é diferente, Sarita é uma trans - uma abreviatura do transexual, travesti, transgênero ou transformista -, Gloria Perez na época, não quis fazer uma distinção: "É uma travesti", embora sua maneira de viver fosse de uma, mas também fazia shows performáticos em boates, neste caso o transformista.

A novela, é um ponto importante, na história da teledramaturgia nacional, não só por inserir a personagem, mas também para inserir um assunto junto à sociedade, prol o respeito.