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Globo manda regravar cena de transexual em "A Dona do Pedaço", afirma site

Glamour Garcia e Pedro carvalho em cena da novela "A Dona do Pedaço" (Foto: Paulo Belote/TV Globo) 
O autor Silvio de Abreu mandou Walcyr Carrasco reescrever a cena que Britney (Glamou Garcia) contava para o 'paquera' Abel (Pedro Carvalho) que é uma mulher trans, na novela A Dona do Pedaço. A cena foi exibida na última quinta-feira (22) e mostrou o homem cisgênero rejeitando a transgeneridade de Britney, se sentindo ofendido e a chamando de 'monstro'.

Segundo o site Notícias da TV, Silvio de Abreu pediu que Carrasco fizesse uma cena mais 'respeitosa' e o material teve de ser regravado. Ainda segundo o site, Abel teria uma reação extremamente agressiva ao 'descobrir' que a amada era uma mulher trans, chamando-a de Frankenstein, chegando a ameaçá-la: "Eu... eu devia dar uma surra em você, por ofender minha dignidade".

A emissora chegou a confirmar um reajuste de tom, a fim de 'deixar a cena um pouco mais romântica', afirma o site.

JOCOSA

Walcyr Carrasco tem tratado a questão de Britney de forma extremamente jocosa e repleta de humor, ao mesmo tempo que ela sofre (ou sofreu) transfobia em locais públicos como em restaurantes, com a presença de Abel, mas sem ele perceber, o assunto tem sido tratado de forma sempre estereotipada. Quando se refere ao pênis da personagem, que não fez a cirurgia de redesignação sexual, chama o órgão de 'dito cujo'.

Em uma cena, exibida há um mês, quando Abel abraçou Britney, ele sentiu o órgão genital da personagem. Depois, uma cena extremamente mal gosto 'mostrou' como a personagem escondia o órgão quando usava trajes de banho, como biquíni.

SUTILEZA

A sutileza não é um forte de Walcyr Carrasco, não apenas em A Dona do Pedaço, mas em tramas anteriores como O Outro Lado do Paraíso e Amor à Vida. Na trama anterior, exibida entre novembro de 201 e maio de 2018, o autor chegou a ser criticado pelo diretor artístico da novela Mauro Mendonça Filho, o que causou inclusive a separação da dupla nesta nova novela. A diretora de núcleo de A Dona do Pedaço é Amora Mautner.

Em diversos momentos da novela, a trama dos personagens bissexuais, interpretados por Eriberto Leão e Paulo Zulu, variava entre o pastelão e a falta de respeito, retratando a bissexualidade de forma de péssimo gosto. Não contente, Walcyr voltou a discutir a mesma trama, do homem casado que esconde a bissexualidade da esposa, na trama atual, com o personagem Agno (Malvino Salvador).

Em Amor à Vida, o autor tratou o personagem Félix (Mateus Solano) com um humor extremamente elevado e fora do tom, assim como em Agno (A Dona do Pedaço) e Samuel (O Outro Lado do Paraíso), Félix de Amor à Vida era um homem casado que matinha relações extraconjugais com garotos de programa, ou seja, uma repetição escancarada e jocosa e o estimulo de um discurso de ódio.

O VELHO TRUQUE DO HUMOR

Ary Fontoura em 'Assim na terra como no céu' (Fonte: Memória Globo)
O personagem homossexual, bissexual ou trans em telenovelas foram ao longo dos 60 anos da teledramaturgia brasileira, desde a sua inauguração, o LGBT é retratado de forma esteriotipada, em raríssimas exceções que isso não ocorreu. O truque do humor, em colocar o LGBT como personagem em tom de humor, é conhecido por seus autores para que o personagem conquistasse o telespectador, como uma contrapartida. Me respeita, olha como sou engraçado.

Em 1970, na novela Assim na Terra Como no Céu, o personagem Rodolfo Augusto, interpretado por Ary Fontoura, era uma costureiro afeminado (imagem acima). "O costureiro Rodolfo Augusto (Ary Fontoura) é considerado uma das primeiras representações de um homossexual na televisão", afirma o Memória Globo.

Em Tieta (1989), a personagem Ninete (Rogéria), era apresentada como 'uma procuradora que é um procurador', desrespeitando a identidade de gênero da personagem. Diversas piadas em torno do assunto, eram abordadas em cena, como uma suposta relação de Timóteo (Paulo Betti) com a procuradora de Tieta. No trabalho acadêmico, Trava Madrinha, é discutido como o personagem estereotipado foi retratado por Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moreztsohn.

Casos como este foram revistos em inúmeras novelas. Exceções ocorreram com A Próxima Vítima, Explode Coração e A Força do Querer, por exemplo. Uma demonstração no ar, é o personagem Rafael (Odilon Wagner), na novela Por Amor, no ar no Vale a Pena Ver De Novo. O assunto, em torno da sexualidade ou identidade de gênero, tem sido retratado pelas novelas, como uma "ação socioeducativa". "Manoel Carlos havia tratado de troca de bebês, alcoolismo, bissexualismo, preconceito racial e social, ciúme doentio, amores, traições, relação entre pais e filhos e conflitos éticos e morais", na página dedicada a Por Amor, no Memória Globo.

"A Próxima Vítima discutiu abertamente temas como homossexualismo, preconceito racial e social, abandono de menores, drogas e prostituição", ainda segundo o site de memórias da emissora. Uma reportagem da Folha de 201, mostra como um departamento inteiro foi criado pela Globo a fim de encontros assuntos a serem abordados de forma educativa: "Se há assuntos com os quais as famílias e as escolas estão lidando, nada mais natural do que eles reverberarem na televisão", explicou a diretora do departamento de responsabilidade social.

"Tudo por causa deste maldito preconceito" (Torre de Babel/1998)

INTERVENÇÃO

A intervenção de Silvio de Abreu na trama de Walcyr Carrasco, não é novidade. Abreu é um dos autores que mais abordaram assuntos ligados ao público LGBT. Diversas tramas em torno do assunto foram abordados por ele. Como já citado, em A Próxima Vítima, o autor falou sobre a descoberta da sexualidade através dos personagens Sandrinho (André Gonçalves) e Jeferson (Lui Mendes), na época Gonçalves chegou a ser agredido na rua por causa do personagem.

Em Torre de Babel, Rafaela Katz (Christiane Torloni) e Leila Sampaio (Silvia Pfeifer) não conquistaram o telespectador, a trama das duas foi abortada e ambas foram mortas pela audiência na explosão do shopping. Na última cena delas juntas Rafaela dizia: "Tudo por causa deste maldito preconceito", só no final da novela que foi explicado o teor da conversa, elas tinham sido xingadas e humilhadas por serem lésbicas.

Ainda na década de 1980, o autor já tinha abordado o assunto com os personagens Tiago (Edson Celulari) e Ana Machadão (Débora Bloch), que tinham profissão 'não voltadas' para suas sexualidade, ele bailarino e ela mecânica. Mas nem tudo são flores, em As Filhas da Mãe, Silvio escalou uma atriz cisgênero para viver a transgênero Ramona, interpretada por Claudia Raia. Durante toda a novela, falas depreciativas em torno dela foram usadas.

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