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"Acho que essas obras não precisam de um novo autor, mas sim de uma adaptação para os dias de hoje", diz Bruno Luperi sobre Renascer


Bruno Luperi
passou a infância acompanhando de perto o avô, Benedito Ruy Barbosa, escrever algumas das mais memoráveis novelas do Brasil. Entre elas, o clássico da teledramaturgia brasileira Renascer, que ele adapta para a principal faixa da televisão brasileira: a novela das nove. "Eu considero que é a dramaturgia mais potente que ele atingiu enquanto autor", conta o neto de Benedito Ruy Barbosa, que assina sua segunda adaptação, a primeira foi Pantanal que cativou o público.

Luperi tinha 5 anos quando a novela foi ao ar, e 31 anos depois adapta a trama para o horário nobre da televisão brasileira, na principal emissora do país e no horário mais importante. "Sou apaixonado pela obra do meu avô (Benedito Ruy Barbosa). Ele é a minha maior referência, nada se compara a ele, que desbravou a dramaturgia brasileira por esse viés do Brasil profundo, do rural, desse realismo fantástico, e sempre mesclando o imaginário com o tom realista", conta.

Após abandonar a carreira de publicitário para dedicar-se exclusivamente à dramaturgia. Fez a sua estreia na televisão dois anos mais tarde quando, ao lado de sua mãe, Edmara Barbosa, assinou a novela Velho Chico, indicada ao Emmy Internacional em 2017. 

Se tornou, aos 28 anos, um dos mais jovens autores a escrever para o horário nobre. A releitura de Pantanal, obra de seu avô, escrita por Bruno e exibida na TV Globo em 2022, também foi indicada na categoria ‘Melhor Telenovela’ ao Emmy Internacional 2023. Agora em 2024, ele volta a escrever outro clássico da teledramaturgia brasileira: Renascer, baseada na obra original de Benedito Ruy Barbosa.  

Confira abaixo a entrevista com o novelista:
  
Como você define esta nova versão de ‘Renascer’?   
BRUNO LUPERI: Ela fala do Brasil profundo. O José Inocêncio é o cara que conversa com a terra e ela responde, e ele tem a sensibilidade de ouvir o que a terra diz, é um homem que fala a língua da terra, de fato, que planta. Eu parto da concepção original: no dia que ele finca o facão naquela região, ele está plantando uma semente da vida. Ele está criando uma relação honesta com aquela terra onde, mata e morre por ela e ela mata e morre por ele. Ela fala sobre a verdade, sobre a vida e sobre o nosso tempo. 
  
O que te motivou a escrever essa releitura de ‘Renascer’, novela considerada um clássico da teledramaturgia?
BRUNO LUPERI: Sou apaixonado pela obra do meu avô (Benedito Ruy Barbosa). Ele é a minha maior referência, nada se compara a ele, que desbravou a dramaturgia brasileira por esse viés do Brasil profundo, do rural, desse realismo fantástico, e sempre mesclando o imaginário com o tom realista. E ‘Renascer’ é uma novela que me toca muito em diferentes níveis. Eu considero que é a dramaturgia mais potente que ele atingiu enquanto autor. A novela que mais me toca e a primeira que eu tenho lembranças viva. Eu tinha 5 anos quando foi exibida a primeira versão. Então, tenho todas essas lembranças da memória afetiva, de uma novela sendo concebida por ele, e acontecendo na frente dos meus olhos através das reuniões com os atores e diretor. O tempo escreve com a gente, né? Ao longo desses 31 anos muitas coisas mudaram. O tempo determinou muito de como se aborda, de como se trata certas narrativas e de como se traduz aquela cena para o tempo de hoje.  
  
Qual é a importância de trazer para o público esta versão de ‘Renascer’ e apresentá-la também a nova geração?  
BRUNO LUPERI: Essa novela fala de renascimento, de reencontros, mortes e ressurgimentos. O José Inocêncio é um personagem maravilhoso. Ele é desconstruído e se reconstrói, se transforma e se ressignifica. Isso é muito importante para os dias de hoje. Eu acho que essa novela será muito boa nesse momento de novas consciências, de despertar perguntas e questionamentos mesmo que a gente não tenha respostas. Apesar de ser uma novela escrita há mais de 30 anos, eu a considero muito moderna. A função da novela pra mim é apresentar o retrato da sociedade para que depois aquilo seja discutido pela própria sociedade e não por mim.  
 
Como é adaptar uma obra como ‘Renascer’ 31 anos depois? 
BRUNO LUPERI: O exercício da nossa função aqui é se valer de um espelho: a gente tem a possibilidade de olhar para o Brasil de 31 anos atrás e trazer esse reflexo para hoje. Eu sou a pessoa a que foi designado adaptar um clássico. A minha proposta não é recriar. Acho que essas obras não precisam de um novo autor, mas sim de uma adaptação para os dias de hoje. Respeito profundamente o trabalho que me precede, o autor que me precede e que concebeu essa história. E respeito também as histórias que ele criou. Eu não estou aqui para reinventar a roda, muito pelo contrário. Eu sempre uso a metáfora que me foi oferecido a chave de um jardim que o meu avô planou trinta e um anos atrás. Então, ao entrar nesse jardim, eu consigo ver claramente ali o efeito do tempo sobre ele. Então, eu vejo as espécies que vingaram, que floresceram bem, e também as que não vingaram, que precisam ser ressignificadas.  
  
Como é o José Inocêncio nesta nova versão?   
BRUNO LUPERI: O José Inocêncio precisa saber falar a língua da terra e precisa compreender aquela sinfonia, precisa ter mais o pé no chão, pisar o cacau dele, colher e manejar a roça. Ele é um cara mais vivo, muito mais um agricultor do que um coronel. E tem uma questão muito importante: José Inocêncio reinventando a imagem do homem do campo e ele é muito mais essa síntese do homem com a consciência do pequeno produtor, mas que ficou grande pelo trabalho, pelo sucesso dele.  
  
Por trazer uma proposta de olhar renovado, algumas outras mudanças foram feitas na trama. Quais você destacaria?  
BRUNO LUPERI: Estamos recontando uma história depois de 30 anos. Nesse tempo, a realidade do país mudou muito e o Brasil está a cada dia mais consciente sobre diversas questões. A maneira que meu avô (Benedito Ruy Barbosa) trabalhou está diretamente ligada ao tempo dele, isso me obriga a olhar para o nosso tempo, para o retrato da nossa época e urdir a novela nesse novo tempo. Na primeira versão, a primeira fase acontece no período áureo do cacau onde ele era o ‘ouro amarelo’ que brotava da terra. Na transição para a segunda fase, a crise da ‘vassoura de bruxa’ começa a preocupar as pessoas sobre o futuro do cacau. Na nossa adaptação, já partimos 30 anos depois desse cenário em que a situação do cacau está muito mais crítica. A cultura dele está correndo risco e agora apontando para novos caminhos. Acho que esse é um novo contexto, uma nova leitura. Eu me baseio na mudança dos cenários, mas respeitando sempre o sagrado da obra.  
  
E qual seria o ‘sagrado’ da obra?  
BRUNO LUPERI: Eu acho que é uma obra que fala de um amor incondicional de um marido por uma mulher. Trata do amor de um pai pelos seus filhos e faz a autocrítica dos erros que ele já cometeu na vida dele. Ela conta uma história, fala muito sobre uma cultura específica, um povo que tem as suas tradições. Teremos muitas coisas novas que irão surgir a partir disso, mas nunca perdendo a essência daquele homem de valor, que se relaciona de maneira ética com as pessoas ao seu redor, mas que precisou responder com firmeza. É preciso respeitar esses personagens também como autor dessa adaptação.

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