Os ingressos para o espetáculo Fernanda Montenegro Lê Simone de Beauvoir, no Sesc 14 Bis, esgotaram - mais de 10 mil ingressos para a temporada em São Paulo, segundo o Estadão -, os sortudos que conseguiram comprar poderão se deliciar com o texto de Beauvoir sob a interpretação de um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira.
O livro é um relato sobre a relação de Simone com o filósofo Jean Paul-Sartre, que morreu em 1980, e aborda os últimos anos de vida dele. A pensadora e o filósofo eles um relacionamento aberto e viraram símbolo da liberdade do pensamento existencialista do século 20.
Fernanda se cerca de seus óculos, uma mesa, uma cadeira, da trilha sonora e da iluminação para emprestar sua experiência íntima com a obra, dividindo com a plateia o impacto que a liberdade evocada por Beauvoir teve nessa geração de mulheres.
Publicado pela livraria Nova Fronteira o livro tem 578 páginas e custa R$125 (mais frente) na Amazon, mas pode ser adquirido em sebos por um valor mais em conta. Leia abaixo a sinopse do livro:
Em 1924, aos 19 anos de idade, Jean-Paul Sartre deixa a cidade portuária de La Rochelle, onde vivia com a mãe e o padrasto, retornando a Paris para se matricular na Escola Normal Superior, o centro de discussão cultural, filosófica e política da época. Nesse ambiente, conheceu Simone de Beauvoir, através do amigo comum Herbaud. A identificação entre os dois foi total. Logo no primeiro encontro, o futuro autor de O ser e o nada e Crítica da razão dialética declarou: "A partir de agora eu tomo conto de você”. Desde então, até a morte de Sartre em abril de 1980, Simone foi sua companheira inseparável. Participaram juntos de todos os grandes acontecimentos decisivos de nosso tempo, da Resistência a Maio de 68. Nunca se casaram, viveram perto um do outro, mas não sob o mesmo teto, segundo um projeto de amor sem quaisquer obrigações – nem mesmo a da fidelidade. Em Balanço final, recordando essa época, Simone se interroga: “Como teria evoluído se não tivesse encontrado Sartre? Ter-me-ia libertado mais cedo ou mais tarde de meu individualismo, do idealismo e do espiritualismo que ainda me dominavam?” E conclui: “Não sei. O fato é que o encontrei e que esse foi o acontecimento capital de minha existência.”
Em A cerimônia do adeus Simone de Beauvoir relata os últimos dez anos da vida desse homem fascinante, num tom ao mesmo tempo distante e comovente. O livro é o "diário-de-bordo” dessa longa morte. Simone de Beauvoir fala das crises de hipertensão, da cegueira, da progressiva falta de memória, das bebedeiras de Sartre. Um depoimento nada lírico, muitas vezes contendo até frases de um desespero absoluto: "Sua morte nos separa. Sua morte não nos reunirá. É assim: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo.”
O livro é composto também por uma longa série de entrevistas realizadas por Simone com Sartre em épocas diversas. Ela faz ainda alguns acertos de contas, não com Sartre, que ela admira inteiramente, mas com pessoas que, segundo ela, no final de sua vida, o desviaram de si mesmo, como Benny Levy, ou Victor, que se tornou célebre por ter recolhido a última grande entrevista do filósofo, publicada na revista Le Nouvel Observateur. "Victor", diz Beauvoir, "não expressava diretamente nenhuma de suas opiniões. Fazia com que Sartre as endossasse, representando em nome de não se sabe que verdade o papel de produtor. Seu tom, a superioridade arrogante que tomava com Sartre revoltaram todos os amigos que tiveram conhecimento desse texto. Ficaram, como eu, aterrados pelo conteúdo das afirmações extorquidas de Sartre... Victor era volúvel, estonteava Sartre com palavras, sem lhe deixar o tempo de que precisaria para organizar-se." Esse absurdo é um dos últimos episódios tristes da vida do escritor.
Poucos intelectuais na história do pensamento ousaram tanto e deixaram obra tão eclética. Filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista, militante. Sartre foi sobretudo um homem generoso e livre. A busca incessante da verdade o levou a passar suas convicções por um implacável molinete dialético. Combateu todas as instituições, recusou o Nobel, se solidarizou sempre com as minorias. "O silêncio é reacionário", disse em 1976.
O livro de Simone certamente seria lido com aprovação por Sartre, amante da coragem, da verdade e do rigor. Ficará para todos que se interessam por ele e sua ação na história como um testemunho essencial e patético.
O espetáculo estreia dia 20/6/24 no Teatro Raul Cortez, no Sesc 14 Bis, com Patrocínio do Itáu. Ingressos esgotados.
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