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Em entrevista, autores Virgilio da Silva, Aguinaldo Silva e Zé Dassilva falam de 'Três Graças'

João Henrique Rios, diretor artístico, ao lado dos autores: Virgilio da Silva, Aguinaldo Silva e Zé Dassilva (divulgação/Instagram)

Aguinaldo Silva
encarou ao longo dos últimos anos uma persona desprezável nas redes sociais, desde Império, ela surge a atacar todos e qualquer pessoa que fale mal de suas obras nas redes sociais, useu Téo Pereira (Paulo Betti), jornalista detestável inspirado em alguns da vida real, para atacar a imrpensa na novela que escreveu.

Aguinaldo é dono da maior audiência da televisão brasileira nos anos 2000, com Senhora do Destino (2005), mega sucesso da faixa das 21h, no começo do século passado que reina até hoje no imaginário do público. Ele é inclusive o único novelista a só escrever novela para da faixa 'mais' nobre da televisão brasileira.

Autor de sucessos como Roque Santeiro (1984), Tieta (1988) e Senhora do Destino, e de fracassos como Suave Veneno (1999) e O Sétimo Guardião (2017), esta última envolvida em uma polêmica de direitos autorais que quase tirou a novela do ar.

Em Três Graças, que estreia dia 20, ele retorna à faixa das 21h, cinco anos após ser demitido de forma vexatória, como ele conta no livro Meu Passado Me Perdoa, autobiografia, tão sarcástica quanto sua persona nas redes sociais.

Nesta entrevista, Aguinaldo Silva e seus co-autores Virgilio da Silva e Zé Dassilva, falam sobre a novela Três Graças, inspirações e de orde surgiu a ideia da novela. "Quando eu estava escrevendo ‘Duas Caras’, por uma razão que tinha a ver com a trama da novela, fui fazer uma pesquisa na maternidade Leila Diniz, no Rio de Janeiro. Quando cheguei lá, logo cedo, tinha uma fila enorme de mulheres esperando para serem atendidas, e eu percebi que a maioria dessas mulheres eram meninas. Isso me chocou profundamente, porque eram adolescentes grávidas, de 15, 16 anos. Algumas ainda com jeito meio infantil. Um amigo que foi comigo na ocasião falou uma frase que me marcou: “Você está vendo algum homem aqui?", disse Aguinaldo.

"Aguinaldo e eu nos reunimos, durante a pandemia, em São Paulo, e desenvolvemos uma sinopse para série. Depois da sinopse pronta, avaliamos que a história tinha todos os elementos de uma novela. Foi aí que eu sugeri ao Aguinaldo convidar o Zé Dassilva para trabalhar conosco", conta Virgilio que estreia na faixa das 21h como autor titular. "Essa é a terceira obra em que trabalho com Aguinaldo e Virgílio (começamos em ‘Império’), e é a primeira em que assinamos a autoria junto dele – o que é motivo de muita alegria e gratidão", completa Zé Dassilva.

AGUINALDO SILVA

Do que trata ‘Três Graças’, a nova novela das nove? ‘Três Graças’ fala de três mulheres que foram mães muito cedo, aos 15 anos, que não tiveram o apoio dos pais das crianças e foram à luta, passaram por situações extremas. Elas levam uma vida muito parecida com a vida dos nossos espectadores. Ou seja, elas batalham, são otimistas, têm fé no futuro e se envolvem com histórias típicas de um folhetim. É uma ficção que tem o privilégio de poder se inspirar na realidade. Nossa protagonista, a Gerluce (Sophie Charlotte), é uma mulher inconformada com a injustiça, com as maldades que assolam sua comunidade e sua família, numa São Paulo que abriga milhões de brasileiras como ela. Ela repetiu o destino da mãe Lígia (Dira Paes): engravidou de Joélly (Alana Cabral) na adolescência. Mas, quando a gestação precoce da filha se confirma, ela vai fazer de tudo para impedir que Joélly renuncie a seus projetos e ambições, assim como ela e a mãe foram obrigadas a fazer. Ao mesmo tempo, ao se ver diante de corruptos que prejudicam uma multidão de doentes em benefício próprio e com a mãe entre a vida e a morte, Gerluce encara um dilema. Até onde ir quando se precisa batalhar pela sobrevivência?    

A novela vai trazer uma história contemporânea, que se passa na maior metrópole da América Latina, São Paulo. Que assuntos da atualidade são abordados na trama? A novela se passa em dois ambientes: a comunidade fictícia Chacrinha, onde vivem os personagens mais carentes, e os bairros nobres de São Paulo, onde estão os responsáveis pelo crime dos remédios falsos. Esses mundos se cruzam porque Gerluce (Sophie Charlotte) trabalha na casa de Arminda (Grazi Massafera), uma das vilãs da história. Estamos criando uma novela com uma linguagem bastante popular e abrangente, que fala do dia a dia das pessoas, dos desafios que se encontram em uma grande metrópole, de quem sai às 5h da manhã e pega três ônibus para ir trabalhar. Ao mesmo tempo, a novela também fala sobre os dramas pessoais de cada um e de como é possível ser otimista e positivo diante das desigualdades e injustiças. É uma obra da atualidade, do ônibus, do metrô, do trem, mas não será uma novela naturalista: a ficção é a base para a nossa criação. Ainda assim, a trama propõe reflexões importantes a partir de temas hoje discutidos. Teremos, no núcleo das protagonistas, a questão da gravidez na adolescência; falaremos de corrupção e falsificação de remédios. Também vamos abordar aspectos da nossa sociedade. Tudo isso num contexto ficcional.  

A gravidez na adolescência é um tema de destaque na novela. Como surgiu a ideia de retratá-lo na obra? Quando eu estava escrevendo ‘Duas Caras’, por uma razão que tinha a ver com a trama da novela, fui fazer uma pesquisa na maternidade Leila Diniz, no Rio de Janeiro. Quando cheguei lá, logo cedo, tinha uma fila enorme de mulheres esperando para serem atendidas, e eu percebi que a maioria dessas mulheres eram meninas. Isso me chocou profundamente, porque eram adolescentes grávidas, de 15, 16 anos. Algumas ainda com jeito meio infantil. Um amigo que foi comigo na ocasião falou uma frase que me marcou: “Você está vendo algum homem aqui?”. Ou seja, eram mães solo, o que me tocou demais. Isso foi lá em 2007, mas eu fiquei com aquela ideia da fila de meninas grávidas à espera de atendimento da maternidade. Achei que um dia eu teria de escrever sobre elas, e foi, na verdade, desse meu compromisso que surgiram essas três Graças: três mulheres que foram mães muito precocemente, sem que houvesse nenhum homem na família que as apoiasse nesse processo.

A novela também trata de um esquema criminoso de falsificação de remédios. Você se baseou em algum episódio verídico para trazer esse assunto para a história? Esse é mais um tema que parte da realidade para a ficção, muito embora a novela não seja um retrato fiel, porque a linguagem da dramaturgia é outra. Mas o noticiário fala de casos assim, de remédios falsificados, de apreensão, de ação policial contra fábricas clandestinas. É um assunto grave. Já houve casos no Brasil em que pessoas foram enganadas ao tomar medicamentos placebo, que não fazem efeito. Lembro do caso de mulheres que engravidaram por causa de pílulas anticoncepcionais feitas de farinha, isso em 1998, e ficaram anos buscando reparação. Nessa novela, a fábrica chama-se “casa de farinha”, porque os "medicamentos” são feitos dessa matéria-prima. A mensagem que queremos passar com essa trama é a confrontação que existe na sociedade brasileira entre as pessoas que trabalham e dão tudo de si, e pessoas muito egoístas que só visam o dinheiro e pouco se importam com quem está sendo prejudicado pelo mal que praticam.

De que forma a escultura das Três Graças aparece na história? A novela se chama ‘Três Graças’ porque é o sobrenome das três protagonistas, mas também porque existe na casa da Arminda (Grazi Massafera) uma escultura neoclássica que se chama Três Graças. Nós criamos um escultor chamado Giovanni Aranha, que é italiano, e que fez aquela obra especificamente. Arminda e Ferette (Murilo Benício) usam essa estátua de uma maneira bastante ilegal. Ela é mantida no quarto, na casa dela, e nunca é exposta. Ninguém sabe mais que essa estátua está com eles, é um mistério, porque ela guarda um segredo que vai ser revelado. Gerluce (Sophie Charlotte) será a primeira a desconfiar de seu verdadeiro valor.  

Suas novelas anteriores foram marcadas por grandes personagens, como as vilãs Perpétua, de 'Tieta', Nazaré Tedesco, de 'Senhora do Destino', e mulheres fortes, como Tieta, da novela homônima, e Maria do Carmo, também de 'Senhora do Destino', além dos carismáticos Crô de 'Fina Estampa' e o comendador Zé Alfredo, de 'Império'. Em que personagens está apostando em ‘Três Graças’?  Estamos apostando muito na protagonista, a Gerluce, que tem um caráter multifacetado e é sempre altamente positiva. Mas tem personagens muito interessantes, como a Josefa (Arlete Salles), a mãe da Arminda (Grazi Massafera). Ela sabe que a filha é uma bandida e faz o possível para infernizar a vida dela. Eu uso inclusive a suposta falta de memória, que ela realmente tem, para atrapalhar a vida da filha e castigá-la. Ela não é uma velhinha doce, ela é terrível. Tem a Arminda, que é uma daquelas minhas vilãs completamente ensandecidas, que são capazes de fazer as coisas mais absurdas e, ao mesmo tempo, parecer que são engraçadas, mas não são; são cruéis. Eu tenho toda uma linhagem de mulheres vilãs, além das heroínas, que causaram muito rumor. Foi o caso da Nazaré (Renata Sorrah em ‘Senhora do Destino’), que até hoje continua viva andando aí pelas ruas do Rio de Janeiro (risos).  

Como tem sido criar e escrever essa história ao lado do Virgílio Silva e do Zé Dassilva? Tem sido muito legal, com a gente não tem tempo ruim. Começamos a trabalhar eu e o Virgílio, e então chamamos o Zé. Formamos o trio dos Silvas. É um trabalho que funciona como uma fábrica de montagem, somos três autores. Eu me acostumei a trabalhar em equipe no jornalismo. Na minha época, você tinha a obrigação de diariamente botar um jornal nas bancas, então todos trabalhavam para isso.


VIRGÍLIO SILVA

Jornalista de formação, Virgílio Silva fez sua estreia como roteirista e pesquisador na TV Globo em 2014, na novela ‘Império’, escrita por Aguinaldo Silva, obra que conquistou o Emmy Internacional. Também atuou como corroteirista na novela ‘O Sétimo Guardião’, outra criação de Aguinaldo. Além disso, colaborou como corroteirista no filme ‘Crô em Família’ (2018), o segundo spin-off para o cinema do personagem da novela ‘Fina Estampa’. Agora, em 2025, Virgílio assina a coautoria de ‘Três Graças’, em parceria com Aguinaldo Silva e Zé Dassilva. Antes de se tornar roteirista, Virgílio desempenhou funções de repórter e editor em Brasília.   

Que mensagens a novela vai passar ao público? VS - É uma novela que fala sobre pessoas que trabalham, que enfrentam a vida com coragem, que passam por cima das aflições e dos medos e vão à luta, não só pela sobrevivência, mas porque viver é bom. Então, ‘Três Graças’ é uma novela que passa, essencialmente, a mensagem de que viver vale a pena, independentemente dos obstáculos que vão surgindo à nossa frente. 

Conte um pouco sobre o processo de criação de ‘Três Graças’ junto com o Aguinaldo e o Zé Dassilva. VS - Aguinaldo e eu nos reunimos, durante a pandemia, em São Paulo, e desenvolvemos uma sinopse para série. Depois da sinopse pronta, avaliamos que a história tinha todos os elementos de uma novela. Foi aí que eu sugeri ao Aguinaldo convidar o Zé Dassilva para trabalhar conosco. E nós três começamos a trabalhar juntos, fazendo reuniões semanais on-line. Nesses encontros, ampliamos a sinopse, novos personagens e tramas paralelas foram surgindo... e chegamos à novela ‘Três Graças’.   

A novela traz núcleos bastante diferentes entre si, que evidenciam uma grande desigualdade social. O que desejam mostrar com esse contraste? VS - Eu diria que ‘Três Graças’ é um recorte do Brasil atual. A trama mostra a diferença entre as pessoas que têm tudo e as que têm muito pouco, e a busca dessas pessoas - cada uma a seu modo - para se manterem de pé diante da vida. E vale dizer que, nem sempre, essas pessoas se valem de meios morais e eticamente aceitáveis para sobreviver. Os vilões, por exemplo, acreditam tão intensamente no que fazem que, em sua visão, tudo parece natural, corriqueiro… e, assim, seguem repetindo. 

De que forma a atmosfera de mistério aparece na trama? VS - Toda novela precisa ter um grande mistério, e ‘Três Graças’ não vai fugir a essa regra básica do melodrama, que é uma coisa que o Aguinaldo sempre repete para a gente. Nós temos um grande mistério que gira em torno de uma escultura, que, não por acaso, dá – também – nome à novela. Dentro dessa escultura, sem que a maioria das pessoas saiba, está guardado um grande segredo.  

O que o público pode esperar de ‘Três Graças’, na sua opinião? VS - O público pode esperar um novelão clássico, um melodrama, como devem ser as novelas. Uma história com questões próprias dos brasileiros e com as quais muitas pessoas vão se identificar, mas que, por ser uma novela, terá sempre aquele tom acima. Afinal, é entretenimento!  

 ZÉ DASSILVA

Zé Dassilva é roteirista, diretor, produtor, cartunista e membro da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão (que promove o Emmy Internacional). Trabalha como roteirista na TV Globo desde 2000. Foi roteirista em ‘Império’, novela criada por Aguinaldo Silva e vencedora do Emmy Internacional em 2015. Ao longo de 25 anos, criou roteiros para programas que marcaram época na TV brasileira, como ‘Sai de Baixo’, ‘Casseta & Planeta, Urgente!’ e ‘Linha Direta’, onde foi redator-final, além de quatro temporadas de ‘Malhação’. Já colaborou em dez novelas, entre elas ‘Cara e Coragem’ (2022), de Cláudia Souto, indicada ao Emmy Internacional em 2023, e ‘Mania de Você’, de João Emanuel Carneiro, indicada ao Emmy Internacional em 2025.  

A história de Três Graças se passa em São Paulo. A cidade pode ser considerada um personagem nessa trama? ZD - De fato, São Paulo está viva na trama. Até por ser a maior cidade do Brasil, ela é a que mais representa a pluralidade desse nosso país cheio de contrastes. Isso está presente na rotina da protagonista Gerluce (Sophie Charlotte), que sai todo dia da comunidade fictícia da Chacrinha para trabalhar como cuidadora da idosa Josefa (Arlete Salles) na mansão da filha dela, nossa vilã Arminda (Grazi Massafera). É como se Gerluce saísse de um planeta para chegar a outro, mas sem sair de São Paulo, até porque esses dois planetas estão interligados, na trama e na vida real. Sempre que vou a São Paulo, fico observando todas as pessoas que circulam e imaginando a história de vida que cada uma delas carrega. É muito bacana estarmos contando tramas de pessoas que poderiam fazer parte desse caldeirão que resume o Brasil. 

De que forma o humor aparece na novela? ZD - Temos um núcleo cômico, o da família do porteiro Rivaldo (Augusto Madeira), mas há também humor na trama principal, o que faz parte do DNA de Aguinaldo Silva. O embate entre personagens como a vilã Arminda (Grazi Massafera) e sua mãe Josefa (Arlete Salles), uma senhora mais esperta do que aparenta, além de emocionar, deve divertir o público também. 

Na sua opinião, quais os grandes diferenciais da novela para conquistar o público? ZD - Acho que temos aspectos clássicos das grandes histórias populares que o brasileiro aprendeu a amar, como mocinhas imperfeitas e vilãs que fazem o público se encantar, mesmo torcendo contra. Mas isso com um olhar de agora, conversando com o Brasil atual através da realidade de Gerluce (Sophie Charlotte), da ganância de Arminda (Grazi Massafera) e Ferette (Murilo Benício), e através também da realidade de quem mora na fictícia Chacrinha. Lá, muita gente está sofrendo devido a uma injustiça, há pessoas morrendo, até que se cansam disso e decidem fazer algo. Acredito que o público vai se envolver e torcer muito para que nossos protagonistas consigam virar esse jogo. 

Conte como foi sua contribuição com o Aguinaldo e o Virgílio Silva na criação da história. ZD - Essa é a terceira obra em que trabalho com Aguinaldo e Virgílio (começamos em ‘Império’), e é a primeira em que assinamos a autoria junto dele – o que é motivo de muita alegria e gratidão. Nós três temos algumas coisas em comum: viemos todos de cidades pequenas do Brasil (eu de Criciúma, em Santa Catarina; Virgílio, de Montes Claros, em Minas Gerais; e Aguinaldo de Carpina, Pernambuco). Também começamos trabalhando no Jornalismo, e acho que essas duas características influenciam no nosso jeito de ver a vida e de trabalhar. O Jornalismo tem algo a ver com a novela, eu acho, a começar pelo fato de que todo dia tem de ser produzida uma nova edição ou um novo capítulo. É praticamente uma aula diária ver Aguinaldo retornar às novelas, e eu costumo dizer que “o nosso camisa 10 voltou”.  

De que forma os temas abordados em ‘Três Graças’ se conectam com o Brasil de hoje? ZD - Todo mundo conhece uma Gerluce! Uma mulher que foi mãe cedo e que teve de criar sua criança sem a ajuda do homem, que nunca assumiu a paternidade. Para isso, ela abdicou dos seus sonhos e teve de aceitar um emprego de baixa renda, deixando de estudar. Temos milhões de lares comandados só por mulheres, e acredito que isso tenha grande potencial de identificação e conexão com o público. Há ainda o tema do abismo social, com uma desigualdade provocada por pessoas que têm tudo exatamente porque exploram quem não tem nada. É isso que nossa protagonista Gerluce lutará para reverter. 

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