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#DiaDaMulher: Por que hoje não queremos flores

Daniela Criscuolo - ESPECIAL para GERALDOPOST

Hoje é o "Dia Internacional da Mulher", uma data que remete às lutas históricas das mulheres por melhores condições de trabalho e igualdade de direitos, que nos lembra da importância das conquistas ao mesmo tempo em que não nos deixa esquecer que ainda há muito pelo que lutar.

Bacana né? Mas a verdade é que ninguém tá ligando muito pra isso não, o negócio mesmo são as estratégias do comércio varejista pra explorar um outro discurso, aquele mesmo, que nos enxerga apenas como criaturas delicadas, belas, frágeis e fúteis, procurando reforçar um padrão de comportamento e uma série de estereótipos que já não correspondem à realidade de muitas de nós. Nossa identidade não se esgota nos padrões vendidos pelas propagandas na tv.

Vamos tentar ir além das flores distribuídas no supermercado e das promoções nos salões de beleza. Vamos falar de empoderamento, de dignidade, de feminismo, de luta. E por favor entendam de uma vez por todas que feminismo não é sinônimo de odiar indivíduos do sexo oposto e dominar o mundo (aliás, se você acha isso pare de ler esse texto imediatamente e volte pro seu mundinho Nutella. Obrigada.).

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Entendam que O Dia Internacional da Mulher não serve só pra você dar flores à sua amiga, colega de trabalho, namorada, esposa. Reduzi-lo a isso é um desrespeito, é hipocrisia. A data de hoje deveria ser um exercício de empatia, de olhar em volta e perceber o quanto nossa sociedade é opressiva, retrógrada e intolerante quando se trata das mulheres, o quanto o machismo está presente em todas as esferas, ditando regras sobre nossos corpos, atitudes e formas de pensar.

É meio bizarro pensar que em 2017 ainda tenhamos que lutar pela igualdade de gênero, é constrangedor que precisem existir políticas como a do ‘vagão rosa’ no transporte público para proteger mulheres de assédio e violência sexual nesses espaços, e chega a ser absurdo ter que “explicar” pra macho que saia curta e decote não é convite, que cantada na rua não é elogio, que com meu corpo faço o que eu bem entender. É triste ter que abrir mão da sua liberdade de ir e vir por medo de andar sozinha à noite, dói muito pensar que alguém tão próximo como seu marido, namorado, amigo, irmão, ficante, pode ser um agressor em potencial. E dói ainda mais constatar que somos mortas todos os dias, no mundo todo, por sermos mulheres.

O cara que te dá flores hoje pode ser o mesmo que amanhã ridiculariza suas opiniões, questiona sua competência profissional, te julga pela altura da sua saia e não pelo seu caráter, te chama de histérica, te trata como propriedade, se recusa a dividir as tarefas da casa porque “lugar de mulher é no tanque”. É o mesmo que insiste diante de um “não”, afinal “Quem te dá o direito de falar NÃO pra mim, vadia?”, o mesmo que agride, estupra, mata.

É nesse cenário duro que a luta das mulheres se faz necessária, mais ainda, urgente, porque queremos entregar um mundo diferente às nossas filhas e netas, queremos nós mesmas viver num mundo diferente, onde o machismo, esse sim, seja considerado ultrajante, e não a minha saia curta.

* Daniela Criscuolo, 26 anos. Historiadora.

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