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Jovem trans escreve carta aberta para Gloria Perez autora de "A Força do Querer"

TV Globo
Lembro do início da minha transição, a reação de todos a minha volta. Então todas as vezes que eu era questionado ou criticado, lembrava da primeira vez que contei para minha mãe que sou um Trans Homem. Ela me olhou com os olhos marejados, não esboçou reação de espanto ou rejeição. Apenas me abraçou e disse: "Te amo muito. Você é o presente que Deus me deu!" E hoje fazendo uma releitura sobre a reação dela, vejo que ela sempre soube, só não sabia como lidar e entender, mas optou pelo amor.

A cena de Joyce (Maria Fernanda Cândido), mãe do Ivan (Carol Duarte), entrando no quarto olhando as fotos dele antes da transição e trocando o porta retrato pela foto atual dele, depois da transição foi uma redenção! Ela também esta passando por essa travessia junto com o filho a família toda, por isso é tão necessário os pais fazerem terapia um acompanhamento junto com um psicólogo para saber lidar com essa realidade.

Gabriel Vitchenzo, 26 anos, artista.
Telespectador assíduo de
"A Força do Querer"
Muitas pessoas não conseguem ver como é importante falar sobre esse assunto e Glória Perez fez isso lindamente. Vejo pessoas de todas as idades comentando sobre a novela e o que é melhor, com tanta empatia, com tanto respeito. E na torcida para que Ivan realize todos os sonhos e a transição, e que a família o ame como ele é!

A maioria das pessoas trans e travestis não tem o apoio da família, muitos são colocados para fora de casa. O que torna ainda mais arriscado, já que a rua (a sociedade) não tolera tudo que foge dos padrões impostos. Muitos trans e travestis morrem por agressão brutal com requintes de crueldade ou por suicídio, por todo esse contexto da não aceitação da família, da falta de oportunidade, da sociedade, da rejeição de todos os lados. É como se tivesse mil armas apontadas para sua a cabeça impulsionando ao abismo.

Se tem uma porta que esta fechada sempre é para as pessoas trans e travestis! Agora imagina: não ter porta para bater e pedir ajuda. E sua família é a única coisa que tem no mundo, mas sabe que não pode voltar lá para pedir ajuda, para gritar por socorro, afinal vai encontrar rejeição e palavras duras ou coisa pior! As pessoas não tem noção de como é importante esse acolhimento, essa empatia dos pais.

Joyce só conseguiu entender isso quando o filho foi agredido na rua e quase morreu. Ivan apanhou por não corresponder ao padrão imposto pela sociedade. E naquele momento, quando Joyce olhava seu filho na maca de um hospital, ela entendeu que ela também o agredia, que ela também era cruel com ele. Então Joyce resolveu apoiar seu filho na cirurgia libertadora: a mastectomia retirada dos seios. Antes dele entrar para a sala de cirurgia ela foi até ele e beijou na testa dele e disse: "EU TE AMO MUITO!"

Então veio em minha mente a lembrança da minha mãe quando falei pela primeira vez  que sou Trans Homem. Logo em seguida, quando acabou a novela, minha mãe foi até a sala e me disse: "Ainda vou ver você realizar esse sonho pois sei que sua felicidade depende dessa cirurgia". Entendem como é importante o apoio da família? Como é importante esse tema ser colocado dentro dos lares? Não se trata de doença, nem transtorno mental e muito menos precisa de cura: apenas de amor, de carinho, respeito, empatia e abraço que acolhe.

Glória Perez eu só tenho a agradecer pois em um momento que vivemos um retrocesso em nosso país onde a intolerância se faz presente, tem que ter muita coragem e empatia para colocar um tema que é rejeitado por todos os lados. Ela falou o que ninguém queria escutar, ela mostrou o que ninguém quer ver ou finge não ver e preferem matar para que não exista! Ela colocou a realidade nua e crua, não quis impor nada, apenas mostrou que nossa sociedade necessita ser tolerante!

Se não aceita apenas respeite, afinal da realidade do outro só ele sabe a dor e a delicia de ser quem é!

Sei que o mundo esta cinza de intolerância e ódio mas quando fecho meus olhos consigo ver amor em diversas cores e todo esse cinza de tristeza, sofrimento e ódio some. Afinal esse arco-íris nasce de uma tempestade sem fim, mas esse ARCO-ÍRIS permanece na resistência pelo amor da liberdade de todas as cores para iluminar e levar esperança e dizer que a diversidade não esta sozinha e que não vai ser um céu cinza que vai fazer esse arco-íris desaparecer!

Com todo amor e carinho aos leitores,

Gabriel Vitchenzo.

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1 Comentários

Unknown disse…
Gostei meu amigo muito bom o seu texto.😍